Releia a entrevista que fizemos com a figurinista Marília Carneiro em agosto de 2009.
Marília Carneiro, uma das maiores figurinistas do Brasil, volta à cena na recém estreada trama das 19h, o remake de Guerra dos Sexos. Com mais de 40 anos de experiência no ramo, ela foi a responsável por produções de figurino históricas como a de Gabriela (na versão original) e Dancin’ Days. Mais recentemente foi responsável pelos looks de Celebridade e Passione. Na época em que estava à frente da produção de moda da novela Caras e Bocas, Marília já havia dito a Valliosa que é preciso ter instinto apurado para traduzir na telinha o que se vê nas pesquisas de tendência. “Se você não tiver feeling, um olhar aprimorado, certamente não descobrirá na pesquisa peças interessantes”.
Na semana de estreia de seu novo trabalho na tela da Rede Globo, a figurinista nos concedeu nova entrevista, falando um pouco do que vem por aí. Mais uma vez ela diz que sua intuição em observar o mundo da moda é que guia a produção que está realizando atualmente. “Não conhecia o (figurino) original e os conceitos foram totalmente novos”, revela. Dentre suas inspirações ela cita as comédias dos anos 40 e 50, nos trabalhos em que se unia requinte ao bom humor. “O texto (da novela) é um retorno à elegância romântica e assim serão os figurinos”, explica. Por fim, perguntamos à expert o que ela sugere para a mulher brasileira que quer estar elegante nesse verão: “Usar e abusar das cores quentes e das sandálias coloridas.” Fica a dica!
Deu vontade de conhecer mais sobre o trabalho de Marília Carneiro? Confira abaixo a entrevista que ela concedeu a Valliosa.
Uma das etapas mais importantes na construção de um personagem é a elaboração do figurino. As roupas reforçam elementos da personalidade de alguém e é um dos fatores que pode demarcar fases na vida de um personagem dento de um contexto.
Marília Carneiro, a mulher responsável pelo figurino da novela Caras e Bocas concedeu a J&J uma entrevista na qual fala um pouco mais sobre a construção de um personagem, sobre sua trajetória e as característas que auxiliam a elaboração de um guardarroupas harmonioso e de acordo com cada personagem.
Valliosa – Um figurino requer grande investigação, reflexão e interpretação, uma vez que representará a alma de um personagem. A partir de qual momento você começa a elaborá-lo? Auxilia ou delonga a interferência da visão do ator que irá interpretá-lo após a sinopse divulgada?
Marília- Através da sinopse do personagem começo a pensar nele. Um personagem para mim começa na cabeça, como num quadro imagino os detalhes, o corte de cabelo combinando com os tons de suas roupas que harmonizam com a sua pele. Exemplo: a Flávia Alessandra não ficou muito bem com esse corte de cabelo curto desfiado na navalha e a Sheron Menezes, com sua beleza negra e seu cabelo natural?
Valliosa – Conseguirias montar um paralelo entre as principais diferenças de se trabalhar em novelas, teatro e cinema?
Marília- No cinema o tempo é menor seja para produção ou para exibição do resultado, por isso tudo que envolve os personagens devem ficar evidente. Em uma novela temos quase um ano e às vezes mais até de exposição na tela por isso podemos ter detalhes subjetivos que ficam mais marcantes ao longo da trama, já no cinema não.
Valliosa – Quais são as alternativas (empréstimo, compra, confecção…) mais utilizadas nas novelas da Globo, e quais vantagens que ela traz?
Marília- Nós temos um acervo de peças grande na emissora e sempre temos a opção de compras extras de peças com o inicio de uma nova produção para trazer frescor e tendências para a produção, fabricar é mais utilizado para peças de época.
Valliosa – Além de sua paixão por leituras referentes a artes, história e cultura de modo geral, você viaja bastante, tem na sua bagagem experiência de atriz e até mesmo com vendas de roupas. Você considera que sua caminhada facilitou uma aproximação, e talvez um maior entendimento neste meio profissional?
Marília- Claro. Eu estou sempre buscando conhecer algo novo, minhas paixões são: a minha família, as viagens, os filmes, livros, as galerias e os museus de arte que eu já visitei além, é claro, das novelas e de toda essa vivencia visual e emocional que já tive nesses quarenta anos de profissão que acaba se refletindo no meu trabalho.
Valliosa – Não é mais novidade dizer que as novelas são grandes lançadoras de tendências, e por isso seu trabalho é conhecido pelo Brasil todo, despertando grande curiosidade pela população e profissionais de moda. Com isso, você precisa estar sempre um passo à frente. Então, o que pesa mais: pesquisa ou feeling?
Marília- Se você não tiver feeling, um olhar aprimorado, certamente não descobrirá na pesquisa peças interessantes.
Valliosa – Sua obra Marilia Carneiro no Camarim das Oito virou uma referência bibliográfica para faculdades que possuem curso de moda. Imaginava tamanha repercussão?
Marília- Acho que toda autora deseja no fundo que sua obra seja valorizada, afinal existe um grande trabalho por trás do resultado publicado. Mas, confesso que fiquei muito feliz com o reconhecimento positivo dos leitores. Eu estou completando 40 anos de carreira sendo destes 35 na TV Globo, não mereço esse carinho, risos.
Valliosa – Imaginamos que deve ser bem corrido o período de trabalho. Quando acaba, qual é sua válvula de escape para se preparar para uma nova jornada?
Marília- Uma viagem, sempre. Aliás, já estou estudando qual será o próximo destino em janeiro quando termina Caras e Bocas.
Por Marina Cezar/ Douglas Oberherr
Fotos: Marcos Pinto