Marina Cézar – Moda enquanto linguagem

             

 

A Consultora Marina Cézar em Palestra durante o Moda Insights edição 2008 falando sobre Cool Hunting

A Consultora Marina Cézar em Palestra durante o Moda Insights edição 2008 falando sobre Cool Hunting

 

 

               A Consultora de Moda Marina Cezar, também professora do Curso de Design de Moda da Feevale em Novo Hamburgo, deu uma entrevista à JeJ falando sobre seu trabalho, as dificuldades das empresas em se abrir para a inovação e sobre a “identidade brasileira” na moda.

 

Confira abaixo a entrevista na íntegra: 

 

 

Como se deu seu primeiro contato com a moda?

Posso dizer que desde quando entrei na faculdade, em 1999. Desde lá, tive a certeza do que queria seguir nessa área. Mas jamais pensei em dar aula, e quando fui convidada quando ainda era assistente do Núcleo de Pesquisa do Centro de Design (onde hoje sou a supervisora), me surpreendi de como gostei! Acho fundamental ter experiências amplas, desde estágios até empregos contratados. É somente na prática que teremos a certeza de onde seguir. Talvez gostamos ou sabemos fazer algo, que nem temos consciência ainda.

 

Qual sua formação acadêmica?

Fiz a graduação Tecnologia em Moda e Estilo pela UCS, após minha especialização se deu na Anhembi Morumbi/SP com a pós-graduação Cultura de Moda, e atualmente estou em processo de finalização do mestrado em Moda, Cultura e Arte, no SENAC/SP.

 

Além do trabalho como professora você também presta consultorias para empresas que trabalham com moda. Qual a principal dificuldade dessas empresas neste mercado?

Estarem abertas para novidades e inovação. A moda por si só é um fenômeno efêmero, é muito mais do que meros objetos que sobrepomos ao nosso corpo. E é essencial a consciência que de, quando se trabalha com moda, a atualização deve ser constante. Sem o monitoramento do mercado, a criação fica muito voltada ao gosto pessoal e achismos. Tem muitas empresas que ainda tem aquele pensamento arcaico que, só porque sempre deu certo, continuam fazendo exatamente da mesma forma, sendo que poderiam estar muito mais a frente. E uma segunda questão é que inevitavelmente lidamos com o ego das pessoas, e se questionamos alguns valores de criação e visão, pode ferir o lado pessoal. Se o profissional for entendido, saberá usá-los como reflexão e melhoramento, caso contrário, a ofensa pode afetar a perspectiva.

 

A moda acaba por exercer, muitas vezes, um papel de modeladora da sociedade. Esta afirmação é válida para você? Por que?

Penso que há um intercâmbio mútuo, pois assim como o ser humano é produto do seu meio, a moda por vezes influencia a sociedade. Ela tanto é moldada pelas pessoas, quanto retrata um entendimento social. Atualmente a moda não é mais ditatorial, e sim, dialoga junto com seus mensageiros, ou seja, nós.

 

Temos visto nas últimas edições dos eventos de moda nacional a frase “buscamos colocar na passarela a identidade brasileira”. É possível identificar “uma identidade brasileira” tendo em vista que nosso país é formado pela miscigenação de tantas culturas estrangeiras?

Não acredito em identidade brasileira. Pode parecer cruel num primeiro momento, mas o que defendo é que nos preocupamos demais em intitular uma legenda do que somos, sendo que essa tarefa é inviável. E não tem o porquê nos determos a isso. Assim como acho arriscado colocar o “estilo londrino”, o “way of life americano” e tantos outros… Na busca em identificar (ou podemos dizer inventar) uma identidade brasileira, acabamos perdendo tempo e nunca chegando a lugar algum. Na realidade, todos os brasileiros possuem a cara do Brasil, é essa mistura de cores, estilos e gostos. Como nosso olhar é cultural, mesmo que inconscientemente, para quaisquer criações que fizermos, haverá um pedacinho do Brasil. Levamos conosco sempre porque faz parte da nossa bagagem social. Acabamos nos estereotipando, algo que não considero saudável para o mercado. Não são todos os criadores que adotam uma vasta cartela de cores e estampas, com tecidos fluidos e modelagem sensual como muitos compradores estrangeiros pensam. Muito menos que toda a mulher brasileira é mulata, curvilínea e sabe sambar! O Brasil é um país muito grande e diversificado para ser acomodado em um só estilo e vida. E acho que o que falta é compreendermos isso, e sabermos usar a nosso favor essa multiplicidade, e não tentarmos unificar.

 

É possível nosso mercado assimilar todas as tendências sugeridas pelo mercado internacional?

Não, e nem é necessário. O que acho válido é dialogar o conceito da estação com o estilo da marca. É fundamental saber as tendências comportamentais e de varejo, mas jamais a empresa deve perder seu foco. Quem vai dizer o que funciona ou não é somente o nicho de mercado. Por mais que ainda possuímos uma supervalorização do que vem de fora, aos poucos está mudando este conceito. Temos muitos criadores em diversos segmentos que são extraordinários, temos que explorar mais nossos potenciais. Até porque copia não é criação. É plágio.

 

Cite algumas boas fontes para pesquisa de moda.

Sei que estamos no mundo digital, e poderia citar inúmeros sites, mas ainda sim, sou dos periódicos! Sugiro as revistas L`offciel Brasil, Harper´s Bazaar, Elle e Vogue para informações gerais de moda. Bravo!, Piauí, Simples, Key e Trip para atualizações inteligentes e noticiais do mundo. Numéro, Another Magazine, Dazed & Confused, ID, Print, Rojo e Zink para conceitos, fotografia e produção. E Collezioni, ARSSutoria, L`offciel Modèles e Textile Report para desenvolvimento de produtos. É importante lembrar que quando estamos lendo e retirando informações em revistas, não apenas os editoriais e colunas nos mostram moda, mas propagandas são fontes riquíssimas que podem nos passar muita coisa, basta sabermos lê-las corretamente.

  

2 Respostas para “Marina Cézar – Moda enquanto linguagem

  1. Dallen 05/06/2009 às 5:50 PM

    Excelente!

  2. Patricia 31/07/2009 às 3:37 PM

    Prezada MArina,
    Gostaria de obter seus telefones de contato.
    Aguardo suas info
    Att
    Patricia Caju

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